- 15/07/2012 |
- Paulo Mileno*
- Jornal do Brasil
O futuro do Brasil entrou num compasso de amadurecimento de seu povo e sua consciência crítica em dias de rotina; num vazio em que gera um desgaste em que pra ter esperança, é preciso ter coragem. E “coragem” em latim se traduz como “agir com o coração”. Dados comprovam que o mundo de hoje mudou muito (e pra melhor) do que nas noites em que a vanguarda sonhava com a revolução social de todas as estruturas de decisão de poder onde a situação governava. O Brasil de hoje é outro, está mais caracterizado com sua miscigenação, seu povo dobrou em contingente, novas fontes de riquezas naturais foram descobertas, condições melhores de inclusão social e aprofundamento da democracia estão na ordem do dia. Porém, nem tudo são flores.
Algo paira no ar enquanto a nostalgia do imaginário popular remete a promessas de amor. “Existia uma grande dose de romantismo, mesmo sendo por razões não tão românticas”. Vieram depois descobrir a Aids, as drogas, que o cigarro provoca câncer no pulmão. Uns fingem acreditar no amor, pra outros, paixão é coisa de careta. Com o avanço da luta feminista e independência da mulher, o casamento deixou de ser uma instituição falida. Hoje só se casa por amor. E então isso é démodé. No que se refere ao sentimento de identidade com o mundo ao seu redor, se rompe o reflexo característico. Evidencia-se um mal-estar entre jovens, já que palavras como “revolução” e “ideologia” estão antiquadas, e a energia juvenil na sua rebeldia, do qual todos nós jovens somos cobrados, não encontram seus canais de expressão, além do mundo virtual.
Momento esse contraditório à luz de nossos dias de esperança no futuro. Não vivemos nenhuma efervescência cultural, todavia, existe aí um clima de mormaço. Como o ensino superior no Brasil foi projetado para instruir a elite “governante” e suas linhagens familiares, abarcando suas influências na opinião pública, há de se compreender quando, há 52 anos, enquanto 99% do povo brasileiro era excluído das universidades. Ou seja, um dia em que nossos avós eram jovens como hoje o somos. Nessa época se namorava mais, hoje a juventude “fica” sem compromisso. De acordo com o atual presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, meu amigo, cerca de 15% do povo brasileiro atravessou os muros da universidade, porém longe do nosso ideal.
Segundo o reitor da instituição mais antiga do país, faculdade onde estudo, também membro da Aliança das Civilizações da Organização das Nações Unidas (ONU), Candido Mendes, “o que marca um país desenvolvido é nós chegarmos a ter, pelo menos, 25% a 30% de uma geração ingressando no ensino superior”. A produção do conhecimento e as criações artísticas num fazer cultural hão de se compreender com a consciência de nosso tempo, modernidade de um momento que propicia ruptura como os processos de radicalizações, demostrando que o Brasil será o país do futuro ao passo que resolver seus problemas. E pra isso depende da liberdade de seu povo. Alegria sem paixão, logo acaba o tesão.
Ao compor as forças emergentes formada em nome de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, (os BRICs) em conjunto podem representar progresso enquanto as demais economias mundiais entram em estagnação. Na medida em que a atual economia de domínio global transita em crise capitulares, mas seu capital cultural, tanto em língua como moeda, parece não demonstrar ser abalado, a China vem se assumido no cenário político mundial, com uma outra política de administração de governo, em prol também do desenvolvimento do capital a seu favor tido como “Made in China”, porém contra o establishment dos EUA.
No último seminário Humanity and Difference in the Global Age ( Humanidade e Diferença na Era Global ), da Academia da Latinidade, ocorrido no mês de maio em Beijing na China, Candido Mendes, na condição de secretário-geral da Academia de Latinidade, afirmou ser possível agir num duplo protagonismo de nações imensas como o Brasil e a China, frente ao processo em curso da globalização, que pode descaracterizar o internacionalismo, mas que, sobretudo, existe aí um espaço para uma parceria..
Uma das maiores preocupações dos chineses “é fazer com que o mundo ocidental conheça a genuína cultura chinesa e entenda o espírito de seu povo” (conforme informou Merval Pereira em sua coluna do dia 25/05/2012, A vez da cultura). Algo muito similar com a alma do povo brasileiro, que por ter surgido nos trópicos latinos, sua originalidade de somar na transformação, para essa tomada de consciência que a globalização desafia, embate diretamente acerca da diversidade cultural, o que é incabível numa uniformização cultural do mundo. A parceria referida por Candido Mendes poderia começar a se formar por intercâmbios acadêmicos e culturais, começando com um festival de cinema entre Brasil e China. Sobra espaço, desta vez, pra a Índia dialogar também com a sétima arte, já que sua produção cinematográfica, através de sua Bollywood, provou sua força ao ganhar o Oscar em Hollywood no ano de 2009 com o filme Quem quer ser um milionário?, mesmo sendo um dos países mais pobres do mundo.
Essa parceria remonta ao tempo onde seria impossível agregar ao conhecimento humano a sabedoria da cultura milenar enquanto essa sobrepujou como potência mundial, quando a China formava um dos braços do bloco asiático, no quesito de poderio militar ao terminar a construção de sua Muralha da China, hoje reconhecida como umas das 7 Maravilhas do mundo, dado momento, ainda de descoberta e colonização do Brasil.
A probabilidade para essa convergência histórica passar a ser presente, depende de uma combinação de eventos de interesse mútuos que visem resgatar a identidade e a tradição de cada um de seus povos. Se não existe voz própria existe dependência. E o pior é quando ninguém toma posição, o que gera falta de estima. Na ausência de uma relação direta com seu tempo, fica um vácuo do decorrer do processo histórico. O que assemelha com estagnação ou mesmo fim dos tempos, nunca avanço.
Qualquer povo que não expressa sua cultura, não é digno de si, enquanto ele mesmo não se preocupa com suas raízes e muito menos memória. Como “as ideias dominantes de uma época são as ideias da classe dominante” em sua utilidade conservadora, notoriamente, a função social da arte é pensar as alternativas e experimentações, através das forças emergentes, que talvez não sejam medidas acertadas no começo, mais é preciso tentar.
A Rússia, que já foi modelo de sistema econômico na juventude de nossos avós, hoje se encontra regredindo democraticamente, segundo o cientista político Candido Mendes, enquanto as demais nações estão em desenvolvimento. Com exceção da China, que não foi propriamente uma colônia, África do Sul, Brasil e Índia foram colonizados, os quais ainda carregam as marcas indeléveis de subjugação no rosto de seu povo, sendo até natural abaixar a cabeça. Razão do complexo de inferioridade incutido na massa. Candido Mendes atribui justamente o sucesso econômico do grupo à desobediência de serventia dos BRICs frente aos organismos internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Para nós, os jovens deste país, com menos de 30 anos, talvez a ausência de um ditador que sufoque imediatamente qualquer contestação das “mentes e corações”, venha a ser numa democracia, tornar essa luta de independência ainda mais difícil, uma vez que o inimigo não está claro, e ficamos sempre perguntando quando isso vai acontecer. Isso que o inconsciente coletivo deseja, mas que ninguém sabe como deixar o coração falar.
* Paulo Mileno é ator.
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