sexta-feira, 14 de maio de 2010

Artista da BF

O cheiro da madrugada


Tem dias, em que a noite confunde a gente.
O sujeito chega,
puxa a mesa da bodega,
se aconchega e,
de repente,
nem sabe mais por que águas a própria alma navega.

E a lucidez segue assim em interminável refrega com a pobre da insensatez.
O dia chega e diz não.
A noite sopra um talvez, talvez.
Já a doida madrugada, feroz e destrambelhada,
em completa embriaguez, diz:
agora, meu amor.

E as pernas entorpecidas
se arvoram em merecida e lúdica caminhada.
No meio da noite,
a estrada
nem parece com a balbúrdia
que se encontra de dia.
É luz piscando nos olhos,
botequins pelas esquinas,
um certo ar de festejo,
a boca aberta pro beijo,
decotes, saias, meninas...

O cheiro delas escorrendo pelo brilho das estrelas,
tomando o cérebro inteiro e impregnando as narinas.

A noite deveria ser
algum tipo de canção
dessas que nunca termina.
Com acordes absolutos
penetrando pelos tímpanos
e se apossando do espírito
ou algum tipo de verso majestoso e impenetrável.

Algo assim inenarrável,
um experimento empírico
por sua essência abstrato.
E a madrugada, não o dia,
deveria ser seu quarto
para acomodar os partos insanos da poesia

Vicente Portella - Escritor, compositor e poeta, nasceu na cidade de Duque de Caxias, região metropolitana do Rio de Janeiro, em 26 de fevereiro de 1966.

Publicou três livros: Parto do pensamento, com Elaine Caldas ( Poemas e crônicas), Luz da sombra (Poemas) e Os anjos do pé sujo (Romance) .
Esta preparando para lançar seu quarto livro, que esta sendo aguardado por todos que admiram sua obra.

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