quinta-feira, 10 de março de 2011

Caxias na lista da Forbes

Na lista divulgada pela revista Forbes de hoje, figuram 30 brasileiros entre os 100 mais ricos do mundo. Um dos nomes tem sua história de sucesso muito vinculada a cidade de Duque de Caxias, trata-se do médico Edson de Godoy Bueno o fundador da Amil que tem um patrimônio estimado em US$ 2 bilhões de doláres. Edson começou suas atividades na cidade de Duque de Caxias e seu grande inspirador foi o saudosso Moacyr do Carmo, médico e ex-prefeito da cidade.


Nosso blog reproduz trechos da entrevista do blog, querer emprender de Victor Ventura, onde o empresário conta do início da atividades da Amil em nossa cidade.




SILVANA CASE: Nascido na cidade de Guarantã, interior de São Paulo... sua infância e lembranças...

EDSON DE GODOY BUENO: Nasci numa família muito humilde. A minha mãe era doméstica e meu pai faleceu quando eu ainda era pequeno. O motorista que fazia nossa mudança acabou casando-se com minha mãe anos mais tarde e tiveram dois filhos. Ela faleceu há 10 anos; ele continua entre nós e até hoje nos damos muito bem. Ele não tinha instrução alguma, então em casa era proibido ler... ele falava que fazia mal para a visão! Eu perdi quatro anos na escola, mesmo freqüentando-a diariamente. Eu era muito desligado, só gostava de jogar bola de gude e futebol. O fato de ter repetido tantas vezes me deixava muito deprimido e um dia disse para minha mãe que não queria mais estudar. Ela era muito rígida e me bateu dizendo “você vai estudar de qualquer maneira nem que seja a última coisa que eu tenha que fazer por você”. Minha mãe foi a melhor mãe que eu poderia ter tido, tudo o que sou devo a ela.

SC: O seu primeiro empreendedorismo... o engraxate diferenciado.

EB: Eu comecei a engraxar sapatos aos 10 anos porque a minha família estava passando por dificuldades financeiras. Criei um conceito que não existia na cidade. Descobri quem eram as pessoas mais importantes e as atendia nas residências. Muito, mas muitos anos depois, fui aprender o que é nicho, marketing e segmento. Naquela época, eu aplicava essas teorias sem saber nada sobre elas, nem sequer da existência dessas palavras. 

SC: A decisão de estudar Medicina... como surgiu?

EB: A minha grande inspiração em optar pela medicina surgiu com o Dr. Moacyr, o médico da cidade onde eu morava. Ele era uma pessoa muito querida na região e dedicou sua vida a ajudar as pessoas, principalmente as mais carentes. Depois de perder tantos anos de escola, resolvi me espelhar nele, e decidi que seria como ele. Até a mesma faculdade iria cursar! Dr. Moacyr era e continua sendo o meu modelo. Eu acredito que as pessoas só se aperfeiçoam quando se espelham em algum modelo ou exemplo maior ou melhor que elas mesmas. E quando eu resolvo fazer uma coisa eu levanto, como e durmo pensando nisso. Então, comecei a estudar muito. Para sair daquela vida de dificuldade e ser médico, só com muita paixão!

SC: A sua vinda para o Rio de Janeiro...

EB: Em 1965, eu fui cursar Medicina no Rio de Janeiro, na mesma universidade que o Dr. Moacyr, a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, na Praia Vermelha, como era meu objetivo inicial, desde que decidi ser médico. No início, quando comentei meus planos de ser médico, ninguém acreditava que eu conseguiria - como um garoto pobre, de uma pequena cidade do interior poderia estudar Medicina e ainda no Rio de Janeiro? A partir daí, eu coloquei o pé no acelerador! Minha vida começou a tomar novos rumos. Cheguei ao Rio e fui morar com outros nove estudantes de Medicina em uma quitinete de pouco mais de 30 metros quadrados. Eu tentava ser agradável para poder morar lá e ajudava na limpeza do apartamento. A minha mãe me mandava um salário mínimo por mês, o que dava apenas para cobrir as necessidades básicas. Meus colegas me ajudaram nessa fase e hoje eu tenho o prazer de poder retribuir, contratando a maioria deles para trabalhar comigo no Grupo Amil.

SC: Dividindo a casa com outros estudantes...difícil ou enriquecedor?

EB: Eu não considero ter sido uma fase difícil. Quando você coloca um objetivo na sua vida, pode suportar qualquer coisa. Então eu não estava preocupado em ter que dormir no chão e ter que fazer a faxina do apartamento. O sacrifício maior era o que a minha mãe estava fazendo, enviando para mim o que era quase nada e para ela era tanto.

SC: Antes mesmo de se formar, começou a trabalhar na Casa de Saúde São José...

EB: Fui indicado por um dos colegas que morava comigo para fazer plantão na Casa São José, na Baixada Fluminense. A clínica estava em uma situação difícil, praticamente falida e não pagava os salários para os funcionários. Após o sexto mês sem receber, decidi ser sócio, tendo ingressado na sociedade com meus salários atrasados. Depois de alguns anos, a São José tornou-se a maior maternidade em número de partos do estado, realizando na época, 1975, 600 partos ao mês. Foi o meu primeiro empreendimento.

SC: Como médico, passou por dificuldades no início da carreira, ou é mais um folclore ligado à carreira dos médicos?

EB: No início é complicado sim. A medicina exige muita dedicação e compromisso com todos e é uma opção que você faz para a vida toda. Trabalha-se muito e, no meu caso, como comprei o primeiro hospital sem dinheiro algum, só tinha mesmo a minha capacidade de trabalho para oferecer... então, trabalhava exaustivamente! Cheguei a dormir dentro de um carro por algumas horas para descansar e voltar a atender. Na época, trabalhava 72 horas por semana, em média. Tive perda total de três carros devido a acidentes, pois ao retornar para casa, dormia ao volante de tanto cansaço! Até que resolvi morar próximo à maternidade para evitar o quarto acidente!

SC: A morte para o médico...

EB: A morte para mim sempre foi difícil de ser enfrentada. Hoje não digo que aceito, mas convivo um pouco melhor. Nunca aceitei a incapacidade dos médicos diante do sofrimento dos familiares e da possibilidade de perder um doente. É uma sensação de incompetência, de frustração. O que ocorre é que o erro médico faz parte da vida do profissional, pois é parte do ser humano. Se é difícil perder um paciente, mais difícil ainda é saber que alguém morreu por “sua culpa”.

SC: Qual o aprendizado extraído dos primeiros anos de sua carreira como médico?

EB: Eu trabalhei durante 10 anos como cirurgião, que é a minha especialidade. O médico lida com a vida das pessoas, o que de mais nobre há no universo, lida com as mais profundas emoções das pessoas. O que temos que lembrar é que todo tipo de aprendizagem envolve sempre dor. Nós, médicos, temos que ter a habilidade de compreender cada paciente, sua dor, seu sofrimento, afinal essa foi a nossa opção ao escolher a medicina. E não esquecer que não somos Deus.

SC: A aquisição de mais hospitais... e a decisão de se dedicar à administração deles, saindo da área clínica. Uma necessidade ou um interesse com objetivo a longo prazo?

EB: A Casa São José gerou caixa para a aquisição da Somicol (atual Hospital de Clínicas Mário Lioni), que gerou caixa para a aquisição da Clínica Santa Rita, que gerou caixa para a compra da Clínica São Sebastião - tem início a ESHO (Empresa de Serviços Hospitalares). Em 1978, nasce a Amil no Rio de Janeiro, chegando a São Paulo em 1986. Era muita coisa... a decisão de abandonar o jaleco e ser “executivo” não foi simples, mas era necessária. Tive que iniciar do zero, fazer cursos de administração, correr atrás para aprender e ir em busca de informações atualizadas para administrá-las. E foi o que fiz


Um comentário:

Anônimo disse...

Engraçado esse meu país...
Todo mundo vendeu o almoço pra comer a janta, foi engraxate, só tinha um par de sapatos, viveu na dureza, veio da pobreza, venceu na humildade e na honestidade.
Ninguém nunca deu cheque sem fundo, deixou de pagar alguém ou alguma conta, admitiu ou mandou embora sem pagar os direitos de algum funcionário, não sonegou imposto ou algo parecido.
País de bonzinhos da porra!
Gente desinteressante e metida a vencedora!
Saco!

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