quarta-feira, 27 de julho de 2011

Solano Trindade - Reparando um "descuido" histórico

Fonte: www.lurdinha.org
Texto: Heraldo Hb

A estreia do documentário O Vento Forte do Levante, do professor Rodrigo Dutra, que vai acontecer na próxima quarta-feira, dia 27/07, no aniversário do cineclube Mate Com Angu, tem gerado muita expectativa em Caxias e tem tudo para ser um marco na história cultural da cidade.
Além do fato do filme estar a três anos em pesquisa e produção, e de ser lançado justamente em noite de festa do agitado cineclube, uma das principais causas dessa expectativa é certamente seu conteúdo, a figura emblemática do pernambucano Solano Trindade.
Solano, o “Poeta do Povo”, é um daqueles casos de artistas que não tiveram o reconhecimento à altura da qualidade e importância de sua obra, principalmente em Caxias, cidade onde viveu e produziu uma parte considerável de seus momentos criativos. E esse “esquecimento”, pode ter certeza, não foi “coincidência”.
Os motivos pra esse reconhecimento muito aquém já mereceriam reflexões sérias, mas que não são o objetivo aqui. Apenas comento que certamente Solano Trindade figura no rol de geniais artistas brasileiros como Grande Otelo, Lima BarretoPixinguinha, o palhaço Benjamim de Oliveira, e tantos outros que foram modelos que não batiam muito com o eurocentrismo ainda arraigado nas cabeças de boa parte das elites do país. Principalmente dos setores que historicamente culpam a mestiçagem pelas mazelas do país e que estão sempre nas benesses do Estado de olho nos exemplos inspiradores do primeiro mundo. Que o diria o mestre Adbias Nascimento, recém falecido…
Mas focando em Caxias, fica patente que a cidade deve um tributo sincero, justo e generoso ao poeta, folclorista, pintor, ator, teatrólogo e cineasta. Um exemplo concreto disso foi a escolha do nome do teatro projetado por Oscar Niemeyer no centro da cidade (seguramente um dos melhores teatros no Estado hoje). Não tenho nada contra a pessoa do ator Raul Cortez, falecido em 2006, e importante nome do cinema, do teatro e da televisão, mas daí a dar nome a um teatro municipal na cidade… Na ocasião da inauguração houve um princípio de burburinho para que se usasse o nome de Solano Trindade com um homenagem à altura. Os argumentos toscos da época não tinham nenhuma densidade (o fato dele não ser de Caxias, por exemplo) e a mim pareceu apenas aquelas decisões tomadas por políticos querendo aparecer (Raul Cortez tinha acabado de falecer na ocasião). Aliás, como político gosta de aparecer ao lado de atores globais nas fotos…
Mas a questão é essa: assim como Raul Cortez, Solano também foi um artista nacional, e não cabem “comparações” entre eles. Mas fica o detalhe de que este último viveu o estigma de não “cair bem” no palato refinado dos defensores da “alta cultura” do país. E fique registrado ainda o fato de que pelo menos Solano viveu por aqui, produziu e amou essa cidade. Merecia mais reconhecimento por essas bandas.
O importante agora é que o filme será lançado em Caxias e seguirá pelos festivais mundo a fora, trazendo para as telas a figura inspiradora de Solano Trindade. Que o filme seja muito visto também pela molecada nas escolas e sirva pra despertar a chama da indignação e da paixão, nesse momento em que o país necessita urgente de visão crítica, ação sincera e, sobretudo, Arte na veia.
Viva Raul Cortez! Viva Solano Trindade!

Solano Trindade em Recife
Estátua em homenagem a Solano Trindade no Pátio de São Pedro, no Recife Antigo, dentro do projeto Circuito de Poesia (http://www.recife.pe.gov.br/2009/09/18/circuito_da_poesia__168591.php)


Ps: sobre o nome do teatro que hoje se chama Raul Cortez foram também sondados na época o de Barbosa Leite (que seria uma vitória para a Cultura do município) e o de… Roberto Marinho!! Sim, Roberto Marinho… Meu Deus, a caneta na mão de político é a arma mais assustadora do mundo.

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